sábado

meu, para sempre !

encontrei uma fotografia, espalhada pelo chão do quarto. estavas tão feliz, ainda eras aquele homem forte, que me segurava pela mão para não tropeçar, aquele homem que me pegava ao colo e andava as voltas comigo; olhei de relance para o meu sorriso, e deparei-me que eu era uma criança tão feliz quando tu estavas comigo, tinha um brilho especial no olhar, um brilho de uma pessoa feliz, de alguém que tinha tudo na vida, e na realidade eu tinha tudo, tinha o meu homem comigo, que me dava a mão para andarmos, que corria atrás de mim, quando eu decidia fugir, que me dava balanço nos baloiços, que ia comigo dar comida aos patos lá do lago. ao olhar para a fotografia, senti algo a cair pela cara, eram lágrimas, pequenas gotas de água, que hoje me consomem, cada vez que penso em ti, e cada vez que me lembro que tu já não estás aqui comigo. tenho tantas coisas para te contar, tantos segredos para te segredar, tantas coisas para te confessar. lembro-me que em pequenina dizia quando for grande, eu quero ser como avô. o céu ficou negro naquela longa tarde de abril, e por momentos tudo se passou na minha cabeça, dos tristes momentos, ás alegrias. dos natais, ás festas de anos, aos almoços de domingo, e ás férias de verão. no principio, eu não percebia o porque de não apareceres nos almoços de domingo, e não entendia porque é que o meu homem de força ficava na cama e me dizia que não tinha forças para se levantar, mas depois deparei-me com a missa de corpo presente, e vi-te deitado naquele caixão, sem respirares, apenas estavas presente, mas (...) foi horrivel, e hoje ainda são imagens que me consomem, e o que mais me custa, é ter essa imagem presente, e não a imagem do homem que eras, do meu avô, da minha força, e só a olhar para as fotos, é que me recordo vagamente, que em tempos tiveste força, foste forte ao ponto de me transmitires toda a tua força.
ao tocar na areia, recordo-me que foi naquela areia, que fizemos tantas caminhadas, que demos tantos passeios, areia esta, que brincavamos no verão. ao entrar naquela mansão, sinto-a vazia, e sem muralhas, sem sorrisos, e apenas com vazios, no teu sofá, no teu quarto, no teu escritório. continua tudo igual, tal e qual como tu o deixas-te, ninguem teve coragem, de destruir as tuas coisas.
praia das maçãs, almoçageme. caminhos de ferro, eléctricos, que eu dizia que me elevavam, até ao céu. hoje ando no electrico, e já não me leva ao céu, ao fazer castelos com a prima, já não sou a princesa, contigo eu ia a todo o lado, era tudo quando me davas a mão.
tenho saudades tuas, amo-te @

independência


ao escrever-te oiço ao longe a batida que há uns tempos me dedicas-te. Miss independent. e lembro-me das poucas coisas que me faziam chorar, dos maus momentos em que tive sozinha e em que me deixaste sozinha, e nunca me deste a mão, para me puxares para cima. ganhei-te um ódio por te teres tornado desse pedaço de garanhão que hoje és, mas no fundo ainda sinto o meu coração dentro de ti, ainda sinto o teu cheiro nas minhas coisas, e ainda sinto as tuas mãos a puxarem-me para perto de ti, a sentir os teus lábios a tocarem de leve nos meus, e a seguirem pelo meu pescoço até chegarem ao meu ouvido, e me sussurrares 'amo-te carolina'. eram rituais nossos, que hoje foram enrolados, com todo o meu passado. hoje apenas me lembrei, porque ao longe conheci a batida que tinha feito parte da nossa banda sonora. e por momentos, lembrei-me de cartas antigamente escritas, de palavras que me costumavam chegar aos ouvidos. olhei para o lado, mas não te encontrei, apenas um vazio, apetecia-me dançar contigo nos meus braços, embalado na musica.
por momentos fechei os olhos, e senti as tuas mãos a puxarem-me, mas abri os olhos, não queria voltar a amar-te, não queria voltar aquele ano, não, não e não.
sentei-me e recuperei o folêgo, olhei a minha volta, e deparei-me com um caderno, em que só tinha cartas tuas, e no fundo deparei-me com uma fotografia tua.
fechei o caderno, foi o fim ha muito tempo, nao pode continuar a ser a realidade, es apenas o sonho do meu passado